23.12.04

Roda

A roda roda sempre
e o começo não começa
e fica sem fim o final.

Que a natureza da roda
é definida pela continuidade
de um processo indistinto.

O norte corre sob meus olhos,
escorrega pela tangente
atirado fora do alcance.
Espedaça-se contra as paredes.

O movimento de roda
mecânica bruta
não espera que o ar
encha meus pulmões de fôlego
antes de força-lo para fora
num suspiro de assombro.

A vertigem é a única virtude válida.

A roda nunca pára
para mim
para você
para quem quer que canse e pare
e desça, em definitivo, desse carrossel.

Duvida?
Medo?
Besteiras!

Enfie um sorrizo de través no rosto.
Assobie uma cantiga de ciranda.

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Esse saiu um bocado de improviso. Tentei escrever um texto de fim de ano. Acho q não fui lá muito bem sucedido. Não importa, estou assobiando uma cantiga de ciranda... Feliz Natal. Bom 2005 (pq o ano não é novo nem velho).

Abraços aos parcos leitores. Amores ao meu amor.

21.12.04

Contabilidade

Os bilhetes, recados e notas
rigorosamente depositados
no guichê de sua intimidade,
são cheques nominais
que resgatam em tinta
meus débitos de sentimento.

Deles, das duplicatas resgatadas
e dos recibos acumulados
faz-se a contabilidade geral.
Historiografia documental das transações
na relação comercial
estabelecida entre corações.

Se alguma vez falho
(e falho demais),
fica somada mais uma parcela
no meu histórico de mau pagador.

Meus silêncios pesam
como as dívidas de um insolvente.
E correm os juros do cheque especial.

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Ora veja quem está de volta. Sentiram saudades?? Não que isso importe...

Andei tirando umas férias (leia-se bloqueio criativo). Certa vez disse q dependo de uma rotina fixa p escrever e atualmente não tenho conseguido encaixar muito bem esse saudável hábito entre as tarefas do dia a dia.Ou tlvz seja o contrário, tenho escrito até d+ e acebei saturando.

É q escrever se amesquinhou em cozinhar notícias sem fim sobre coisas q eu nem vi e sobre as quais, não raro, pouco me interessam...

P quem não sabe, sou jornalista e trabalho p uma ONG paulistana dedicada a promover a sustentabilidade por meio da promoção de MBAs de alto luxo p ecologistas (se não fosse complicar d+ p os objetivos desse texto seria necessário dizer q, na verdade, trabalhamos na perspectiva do socioambientalismo e tals). Até aí tudo bem, não tenho nada contra ecologistas. Eles costumam ser gente boa e de bem com a vida. Ao menos na maioria das vezes!

O lance, o gde lance é q não há muito o q fazer por aqui. Eles paradoxalmente tem e não tem uma necessidade imensa por produtos jornalísticos. Quer dizer, é preciso manter o portal atualizado e informar o q raios eles estão fazendo p o público externo. Mas isso passa bem longe do q se poderia chamar de gde jornalismo e eventualmente enche o saco!Além do mais, paga mal q dói...

Jesus, preciso de um emprego de verdade ou de uns frilas! (Detesto resoluções de fim de ano. mas se tem uma q preciso é justamente essa: mudar toda a minha vida profissional)

Depois do desabafo comento o texto acima:

Criei um jogo com minha namorada (uma moça tão linda e luminosa q, às vezes, sinto não merecer) q consiste em deixar bilhetes p q ela encontre. É um gesto de carinho meu q se tornou um hábito nosso -- não q seja uma obrigação.

O problema é q recentemente não têm dado p escrever os dito cujos (não por bloqueio, mas por falta de tempo). Por isso a idéia de dívida e a consequente imagem dos bilhetes como documentos de contabilidade... o resto dos temas e imagens vieram meio q a reboque dessa lógica.


24.11.04

Procura

Quer dizer que você
aaaaaaaaaaaaaaaaaame procura?

(Como se procurasse por uma pessoa?)

Entre seus lençóis -- amando -- ou no meio
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaada sala de estar -- vigiando o mutismo do espaço --,
ou nas as válvulas do coração -- rindo feliz.

Não estou nesses lugares!

Tente entre as páginas dos livros raros,
quem sabe eu não salte dalguma bela ilustração!
Imortalizado em bico de pena...

É pena que você não me encontra!

Tenta fazer um google...
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaTlvz vc tenha sorte...
aaaaaaaaaaaaaaaaaaqpode ser que eu estaja enterrado em dados...
Ninguém sabe até onde as raízes digitais alcançam no escuro da terra!

Quer dizer que você
aaaaaaaaaaaaaaaaaame procura?

Na rua em minha casa no escritório nos botecos...

Ninguém me viu.

aaaaaaaaaaaaaaVocê sabe que não checo a caixa postal do celular.

Para todos os efeitos, com todos meus defeitos, estou sumido. Desaparecido na grande vida

Ainda assim, você me procura...
.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaMas será que a busca
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaquer mesmo dizer
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaamor?

Ah! Quer saber...
Vai procurar tua turma, ou vá ver se estou na esquina.

E me deixa sozinho.
aaaaaaaaaaaaaaaaaQue sozinho eu me encontro
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaae me entregar já a você
(me rendo) (me dou de presente) (me deixo ser pego) (atado e amarrado) nos meus termos.

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Olá a todos! Teve gente me cobrando o retorno dessa joça (q esteve meio parada pq andei concentrando forças num concurso de poesias! Torçam!)... Essa coisa dela vir aqui p me procurar foi o q sugeriu o texto acima.

Devo admitir gostei dele! Uma msg direta e simples, mas não exatamente banal. Algumas soluções de diagramação algo concretistas, pero sin "perder la ternura". Aqui se misturam dois percursos de interpretação... no imediato temos uma procura física, uma pessoa q, literalmente, procura "outra"; no segundo temos tb uma procura sentimental e identitária, a "uma pessoa" tenta encontrar elementos p compreender quem é essa "outra"...

No final uma proposta de conciliação: não é preciso buscar ativamente uma compreensão (ao menos no sentido intelectual da palavra) através da interpretação sistemática, esse processo chegaria, infalivelmente, muito pto do julgamento apressado.O ppal desafio ë antes aceitar o outro q compreendê-lo... uma compreensão verdadeira vai vir muito lentamente e sempre de forma incompleta.

[nota] Hummmmm... anda mais do q na hora desse blog começar a servir p outras coisas...

(pausa meditativa)

Vem cá. Será q vcs já ouviram falar num tal de weed?? A wired fez uma reportagem q faz os caras parecerem duas coisas simultaneamente:

1 - pioneiros desse imbróglio q é o mercado musical da era digital, ousadamente indo onde as majors não tem os culhões...

2 - os salvadores da moral e dos bons costumes dessa nação internética q, apesar do dedão acusador da RIAA apontando p cara de todo mundo, não deixa de trocar músicas via P2P...

Basicamente o q eles fizeram foi aplicar o conceito de shareware aos arquivos de áudio. Ou seja, vc pode baixar uma faixa totalmente "di grátis" pelo seu cliente P2P favorito e ouvi-lo no seu comp. Cada arquivo weed vai tocar 3 vezes nem mais, nem menos -- isso até algum moleque espinhento crackear o DRM dos caras --, depois só desembolsando uma $$. O preço deve seguir o padrão iTunes ou, salgados, US$ 0,99 por música. (E tem gente q acha q o Steve Jobs é um bom samaritano!! Galera, a lojinha dele cobra uns R$ 2,50 por um simples arquivo!!)

O interessante é q cada vez q o arquivo é baixado (não sei qto à gravação em CD) a partir do seu comp, ele volta a ser um "arquivo shareware" válido por 3 execuções e, caso o sujeito q puxou o arquivo compre, pte da $$ fica contigo. Ao menos é isso q eles prometem...

Conceitualmente, pelo menos, a idéia é interesante. É bom ver q, finalmente, alguém percebeu q cada usuário de uma rede de troca de arquivos está, na verdade, produzindo um valor q merece reconhecimento. Mas não tenho a menor idéia de como a coisa funcionaria na prática (especialmente em redes P2P q permitem downloads a partir de múltiplas fontes). [/nota]

4.11.04

Pilar dos Prazeres

Amarrado nesse seu corpo,
Pilar dos prazeres da vida,
gasto a voz em gritos de libertação.

Não das amarras,
as quais voluntariamente me submeti,
mas da solidão contida em mim.

Amarrado no pilar dos prazeres.
Não estou preso. Sou feliz.

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O texto é simples. Ele descreve como nem existem compromissos e obrigações q -- apesar de inegavelmente tolherem a liberdade -- não prendem em absoluto. É q estou namorando e é assim q me sinto...

Nos tempos em q escrevia religiosamente um texto por dia por aqui (dias úteis q fique bem claro, tenho mais o q fazer nos meus fdss), havia uma rotina. Pensava enquanto caminhava p casa. As coisas ficaram um pouco diferentes de uns tempos p cá e já não disponho desse tempo sagrado. Mas há uma nova rotina se abrindo por conta do jogo de bilhetes q mantenho com uma certa garota (minha Pantera linda!), então quem sabe...

28.10.04

Paralelas

Alguém pintou um risco colorido
diretamente sobre o ar.
Num cartaz: "Título: Arte em Vermelho".
Exasperante como o sangue -- Mas eu como sangue:
Alimento Litúrgico Perfeito.

A pintura: sem contexto; sem suporte.
Apenas flutuante reta de tinta no ar.
Estática esfinge que é fonte dos mistérios.
Entre seu começo e fim
a regularidade certa de braços bem grandes,
bem abertos. Vento algum
lhe estragaria a simetria construída
com um só golpe seco do pincel.

Olhos tantos, tantos pares passantes
testemunhavam para si o risco de tom rubro
impossível. Coisa sacra. Coisa fúnebre
Ninguém ousava tocar ou comentar
sua natureza assombrada.
Apenas passavam cismados,
acreditavam em mágica de truque ou
segredo de efeito especial ("hollywood").

Desatentos, perderam, na surpreza,
o discurso direto expresso naquela linha reta
matizado por um certo calor cromátivo.
Nem ouviram a pergunta geométrica ao meio fio:
"Nos encontramos no infinito?".

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Uma piração um tanto dadaísta p o gosto usual. Queria brincar de autor mudernérrimo (espero ter soado vazio o suficiente e arrogante o bastante p ser mudernérrimo). Com um pouco de cuidado percebe-se q tudo gira em torno da fruição da arte. Qdo postas frente qq forma de arte menos convencional a maioria das pessoas assume uma postura incomodamente defensiva q -- no geral -- termina com a simples desqualificação da obra enquanto objeto de arte.

Claro q dou razão qdo dizem q a arte moderna é, muitas vezes, o reino da mediocridade oculto sob montes de explicações incompreensíveis. Tb penso assim, às vezes. Mas discordo qto a levar essa crítica a seu extremo lógico e dizer q a boa arte "deve" ser compreensível. Se fosse assim alguém deveria revogar da "Gioconda" (a.k.a "Mona Lisa") o título de quadro mais importante do mundo, afinal não conheço ninguém capaz de explicar aquele sorriso.

21.10.04

Navalha

A navalha beija a pele
que beija a navalha que
beija a carne que beija
a navalha que beija a
veia que beija a navalha
que beija a vida.
Vida, derretida em sangue!

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Texto simplezinho, feito de repetições e uma gradação. Não tem muito o q explicar por aqui. O texto descreve alguém cortando os pulsos... Mais nada.

Antes q algum engraçadinho/amigo sincero/namorada/bom samaritano/agente especial do CVV pergunte.. Não, não estou deprimido e não estou pensando em suicídio (muito pelo contrário). Foi só uma idéia de momento.

18.10.04

Baguera & Shere Khan

Subitamente no Centro Coração das Trevas,
rebrilharam uns olhos verdes cheios duma faísca predadora.
Foram as primeiras estrelas que pontilharam a extensão pura da noite
-- a casca compacta e negra dum ovo vista por dentro --
que cercava tudo a tudo sufocando.
Hipnóticos, só eles faziam sentido!
Aos olhos, seguia-se um corpo esguio, meio grande, e também negro.
Decididamente felino!
Como se recortassem uma silhueta de gato, naquela homegeneidade
[dolorosa subtraindo da massa informe uma outra,
[bem delimitada pela própria singularidade.
Ficaram parados, imóveis... os olhos e o corpo que os acompanhava.
Exceto pela cauda, a cauda que se movia -- introduzindo a brisa na asfixia.
Todo o conjunto -- olhos-corpo-cauda -- encarava o epicentro do Coração das Trevas.
O avaliava. Infinitamente concentrado naquele ponto.
Porque o avaliador estivesse presente, o avaliado estava igualmente lá.
Desafiado pelo olhar da Pantera!
Não poderia ser qualquer outra coisa. Era uma Pantera que o encarava.
E estava à sua frente (Porque agora, que havia o que olhar,
[existia uma frente)!
Ia talvez atacá-lo, ai talvez mata-lo!
Agora que nascia para si mesmo e estava prestes a existir, morreria?
Sabia, pela primeira vez, a exata a extensão da vida inteira.
E tremia e tremia... temendo o instante do bote.
Mas a Pantera não saltava. Não saltou.
Ao contrário, andou de movimentos fáceis à volta toda.
Perto, mais perto, mais perto... Logo ao alcance da mão...
Na suavidade do primeiro toque do pêlo dela sobre o pêlo dele.
[Uma explosão! Luz!
Quebrado transe do Centro, o Coração da Trevas rompeu-se em Savana,
campo de caça inundada de cores e cheiros para o exercício dos corpos.
O antigo Centro agora era ocupante do mundo. Vestia um corpo vigoroso
pintado de tons laranja-avermelhados e raiado do puro negro antigo
(Para sempre lembrar de sua origem).
Examinou-se. Testou-se. Aprovou-se.
Seus olhos (que eram amarelados) perguntaram diretamente aos olhos
[bem verdes dela: "Vamos?"
E parceiros o Tigre e a Pantera sairam à caça.

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Há algum tempo escrevi um texto que chamei "A Pantera". Esse texto foi dedicado a alguém. Sob alguns aspectos esse novo texto é uma continuação daquele primeiro, mas tanta coisa mudou q a continuação é praticamente uma inversão do original. Sintetiza muita coisa q vem acontecendo, q venho sentindo, q venho provando nos últimos tempos. Não sinto mais q sou vítma esperando um avanço (temendo e o desejando simultaneamente). Descobri q sou complementar a ela. Somos igualmente totêmicos. Escolhi o Tigre p mim... Um pouco por pretensão pura e simples, um pouco pq sou doido por tigres, um pouco porque o título (referência a "O Livro da Selva" de Rudyard Kipling... mais conhecido como "Mogli - O Menino Lobo") me soou atraente o suficiente. Agora preciso desesperadamente ir. Pq a Pantera me espera.

[ps] Escrevi esse texto correndo na segunda-feira e não tinha tido tempo de fazer uma revisão dele até o momento. Fiz várias correções, algumas alterações pqnas no poema em si mesmo e mudei a diagramação p deixar mais claro onde começam e onde terminam os versos. Tb editei algo em minha nota pos-poema.

Tb aproveitei p ler os coments. Um deles (extremamente longo por sinal) praticamente grita por uma resposta mau humorada, mas, quer saber, ando contente d+ p ficar entrando (publicamente ainda por cima) em polemicazinhas sem conteúdo, chance de acordo ou futuro... Por isso decidi segurar a minha língua (coisa q de geral não faço) e apagar o tal coment sem qq resposta, espero q isso já seja o bastante. [/ps]

8.10.04

EU, VOCÊ, NÓS

No principio era o "EU"...
e, o EU era DURO
e, o EU era FEIO
e, o EU era FRIO
e, o EU era SECO
e, o EU era ARIDO
Então surgiu "VOCÊ", com seu ar amigo, e seu (e so seu) jeito bonito
[de vir, ver e viver;
que emprestou pra "EU" um pouco de luz
E, assim, se fez o "NÓS"!
"EU" ficou olhando com espanto
trancado, tristonho
em seu sombrio, pequeno canto;
aquele estranho conhecido (pois tinha sua face) que lhe sorria ...

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Rs vários & vários rss! "EU, VOCÊ, NÓS" é o primeiro poema q escrevi na vida e desperta um sem número de lembranças. Q adolescente arrogante fui ao tentar, logo no texto de estréia, emular o estílo biblico de tecer mitos. Tb fui um adolescente deprimido! Doente dessa depressão compartilhavam por todos nessa faixa etária... é o "amor eteno" q nem nos nota estando a menos de 4 carteiras de distância, é o colega q nos enche o saco, é a família nos cobrando uma maturidade q ainda não temos -- e nem eles mesmos, como acabamos fatalmente descobrindo anos depois --, é o prof. fdp-insano-q-nos-persegue-injustamente... Bons tempos aqueles. :-)

Mas longe de mim ser um desses nostálgicos, precocemente embolorados, tão comuns. Viúvos de sua própria adolescência como Casimiro de Abreu o era de sua infância (Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!"). Vão cultuar os anos 80/90 em outras bandas. O futuro chegou p o bem ou p o mal e pretendo fazer pte dele.

Fiz algumas poucas mudanças nesse texto, antes correções conceituais q mudanças estéticas. A versão 100% original pode ser conferida no Bom Dia, Borbole (link no campo de links... não vá se perder!). Só mesmo a Mon p dar valor ao meu manuscrito original e guarda-lo por tanto tempo.

[notas] Imprensa Marrom, in Memorian

Tlvz o bom leitor já esteja careca de saber, mas o Imprensa Marrom foi tirado do ar por decisão judicial.

O imbróglio aconteceu por conta do comentário de algum leitor raivoso (não de um post da equipe referido blog) com sei lá qual serríssimo empresário da igualmente serríssima indústria de "recolocação profissional". O comentário girava em torno das preferência sexuais do dito empresário q deve, com certa justiça até, ter tido seus sentimentos mais "delicados" feridos por tamanha injúria. Trata-se de homem extremamente "sensível".

Por conta disso, o "sensibilíssimo" e serríssimo sr. empresário recolocador de profissionais "delicadamente" acionou seus advogados... o resto da história pode ser lida no Pensar Enlouquece. [/nota]

7.10.04

Contemplação ativa

Conversa de horas altas
longamente espreguiçada.

Ela adormece sobre o colo,
uma paisagem estendida
explorada entre sonhos pelos olhos.
Simultâneos dos dedos,
desfazendo os cabelos
fio a fio, embrenhados
nos mistérios femininos.

Contemplação ativa.
Cegos provam da pele pelo toque.
Experimento tabém.
Tem não sei que gosto,
talvez o de paz.
Tem não sei que cheiro,
talvez o de flor.
Tem não sei que sentido,
talvez o do Coração...

...mas esse tal Coração,
inchaço de entupir o peito,
é vazio e desmedido.
Todas as amarguras interditas
cabem lá. Sobra espaço.

A Noite, cravejada de estrelas e fatalidades,
termina seu turno, vai embora vestida de dourado.
Ela acorda e também vai embora. Vestida de azul?
Quem sabem não foram apenas meus olhos
pregando peças na memória.

Memória que, também feminina,
vem para me ocupar o colo...

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A idéia não era ter um texto por dia? Sim. Tenho negligenciado este blog. Ando entre o amargo como o diabo e o doce como um querubim esses dias e não consigo escrever com regularidade (qdo vc está submetido a bruscas variações na temperatura emocional é bem difícil conceber sentimentos falsos em grafite, tinta ou pixels). As coisas têm se desfeito mais rápido do que se feito em minha vida e, as vezes, o feito parace miragem. Desaparece qdo está ao alcance...

Esse nasceu um pouco de um outro mais antigo chamado Adormecida q não publico por se tratar de prosa... nesse incarnação versificada ele nasceu hoje pela manhã de um jeito, mas -- vítima das circunstâncias --precisou renascer hoje a tarde (esteticamente gostei mais de seu segundo parto). Tlvz um helenista esperto lembrasse aqui dos nascimentos de Dionísio (tentei achar um link para o mito, sem muito sucesso). Convenhamos, helenistas espertos andam uma raridade hoje em dia.

[nota] Outro dia comentei sobre certo aniversário (o meu) e preciso dizer alguns obrigados pessoais. Isso q cria um problema. Esse blog não é sobre mim, mas sobre meus textos (e tlvz alguns rants sobre CC e a tão necessária humanização da indústria do copyright). Os observadores já devem ter notado a quase completa ausência do termo "eu" por aqui com tb o excesso de linguagem vaga sobre pessoas e situações. Questão de estilo com o qual, momentaneamente, quebro.

Mãe & Pai: No final, vc estava certa sobre os brigadeiros e os salgadinhos. Mas o certo é q nunca tem cerveja o suficiente.

K & Ed & G & Du & Carol & Manda: Valeu por tudo manas. Especialmente por me divertirem lembrando estórias dos tempos em q "Moniquinha" ligava lá p casa p longas conversas. Ainda bem q vc não lembraram q Vivi fazia o mesmo. Isso decididamente teria provocado um arranca-rabos.

Anja: Obrigado pelo telefonema. Foi mais importante do q vc imagina.

Lis: Agradeço sua incursão improvisada pelo Gonzaga e o fato de vc não ter ficado ressentida o suficiente p me negar aquela música. Apreciei ambas as coisas. Desculpe novamente por aquela conversa tola.

Mon: Foi bom vc ter vindo. Fazia absoluta questão de sua presença e se não liguei antes foi por realmente acreditar q vc não viria! Tomei a liberdade de passar seu(s) recado(s).

Risada: Valeu o desenho, rapaz! Ainda vou achar um lugar p pendura-lo.

Bruno: Qq outro dia a gente ainda vai naquele lugar. Curtir um teatrinho & curtir um barato.

Jr.: Valeu o Eisner. Ele é ótimo! Tb valeu a quase profética interpretação de "De Mais Ninguém".

Babs & Kim: Se rolar estarei lá nesse sábado. Avisa a sua filhota q minhas sobrinhas gostaram dela!

Morpho & Lu: Foi mau pelo desencontro no Stones. Valeu a presença sempre valiosa.

Marinho & Lu pqna: Valeu muito terem vindo. O mutismo da proverbialmente falante pqna foi uma verdadeira surpreza.

Jacques & Lica: Vcs literalmente salvaram minha noite na sexta. Aquela carne de sol é simplesmente fantástica.

Sermo: Eita lugarzinho embaço aquele q vc foi me arrumar, señor! Mas blz. Aguardo os quitutes árabes e o arguile aditivado.

E tb aos vários q apenas participaram como figurantes [/nota]

30.9.04

Dia sem Marta

Hoje eu não vi Marta!
E do vestido decotado, daqueles de Marta,
nem sinal.
Não vi e não sei o que foi feito dela.
Talvez tenha casado
com algum espanhol emburrado que não a queira dividir.
Talvez tenha fugido
rumo a um lugar onde não seja mais Marta,
uma terra de homens sem tanta fome no olho
(quem sabe em São Francisco!).
Ou pode ter morrido.
Depositado, no fundo do chão, seu corpo
para a festa e fausto de verdadeiros vermes
e não mais dos falsos, como eu ou tu.
Não. Hoje eu não vi Marta!
Mil vezes que não a vi. Só em imaginação...
Nem sinal dos sapatos de Marta
tão altos quanto as torre duma igreja
apontando o correto caminho para o céu acima
aquela anca que balança como sino
a convocar os beatos ao culto da santa
Hoje eu não vi Marta!
Por isso esse ar tão cansado da vida
e a falta de viço no rosto
e a ausência de vida na boca.
É que o dia foi tão duro, tão interminavelmente feio
e ainda por cima - para o cúmulo -, hoje, logo hoje
eu não vi Marta.

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Engraçado. Poderia jurar q já tinha postado esse texto há séculos. Foi justamente ao escreve-lo q decidi criar o blog, portando deveria ter sido um dos primeiros a entrar. Corrijo a omissão.

Gosto dele! Tenho a maior simpatia por meu pobre narrador -- q imagino como um funcionário público sem muitas perspectivas de futuro (atado em seu emprego enfadonho e infinitamente burocrático) --, levemente apaixonado pela colega com quem nunca falou pessoalmente. Tenho tb certa simpatia por Marta! Não sei bem pq, nunca nos vimos! Por outro lado conheço algumas outras "gostosonas da repartição" e reconheço o valioso serviço q prestam aos burocratas embolorados. Sem elas haveria bem pouco assunto nas pausas p o cafezinho. Sei de experiência própria.

[notas] Amanhã é sexta e rola balada de aniversários! Um dos quais será o deste escrivinhador de bobagens... Vai ser numa lounge da Vila Olímpia. $$ 15 p os moços (consumação), digratis p as moças (onde é q fica a igualdade entre gêneros nessas horas?).

Não convido os leitores anônimos pq os sei inexistentes. Entretanto, convido os leitores conhecidos, embora com poucas esperanças... De uma forma ou de outra, haverá outras oportunidades ao longo deste fds p desfrutar das companias -- preciosas -- destes. Há tb o caso de uma leitora em particular q não verei em absoluto, o q lamento profuntamente. [/notas]

29.9.04

Nos Bordeis d`Espanha

Os Bordeis d`Espanha
com sua mulheres, esculturas
de puro-fogo,
não exitem!
Mentiras engenhosas de agente turístico
tão enraizadas naquela terra tostada
que exala cheiros de vinho
quanto árvores centenárias
e pedras que remontam a eternidade.
Que há naquelas mulheres
de tão diferente em relação as da esquina?
Ser amante de toureiros
talhados em madeira
duros no porte, elegantes nos modos
ao som de flamencas e castanholas
é curriculum numa cama?
Nunca houve em Bordeis d`Espanha
essa abundância de damas ciganas dançarinas mouriscas
operísticas Carmens encarnadas
cheias dum perigo encantado
conjurado em palavras obscenas secretas de tão sujas.
Miragens. Romances burlescos. Farsas. Fetiches.
Esgarçado pelo atrito contra o tanto faz que as noites sabem repetir
na forma de amante ruim que volta e volta
e torna a voltar,
mas paga.
E em dia!
Bordeis d`Espanha tb exitem em Paris
e na Boca do Lixo e em Saigon.
Putas d`Espanha tem todas, no centro do mesmo rosto,
aquele mesmo sorrizo
entre o de Mona Lisa e o do Gato de Alice.
O mesmo sorrizo.
Linguagem universal da dor.

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Este texto estava no prelo (leia-se no draft). Tive sonhos sobre Espanha. Sobre touros, touradas, toureiros e dançarinas de flamenco. Olé! Guardei-os p mim. Tb voltei ao site da tal Bruna Surfistinha (guardei-o nos favoritos). De lá tirei uma puta. Bati tudo. Servi quente...

Na verdade nada sei de Bordeis ou Putas d`Espanha, mas se pretendo um dia ser um dos "fingidores" do qual falou Pessoa, então é bom começar por algum lugar... Conheço algo sobre bordeis. Alguns daqueles do cais do porto de Santos. Foram noites sórdidas e divertidas. Cerveja e os melhores amendoins torrados q já experimentei na vida. Coisa fina de verdade... Tb conheço putas! Saudades de Penélope dançando loucamente e da forma como a galera alucinava qdo ela me dedicava atenção especial e ostensiva...

23.9.04

Um nome

Nome
tudo tem
um
nome
às vezes
quase sempre
até mais de um
quase tudo que
os homens têm
são apenas nomes
e estes
quase nunca
lhes são fiéis
mesmo o próprio
nome próprio
não é propriedade
quase nunca
o nome precisa ser
diluído
antes do consumo
precisa não ter identidade
para melhor
vestir a fantasia
da coisa
que não é
quase sempre
consegue enganar
nome é outra coisa
nome é outro
é diferente dos pares
é edificado sobre
vazios incontornáveis
quando ausente
Nome
sempre
é no plural

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Algumas divagações linguísticas aqui, rasas como um pires do pto de vista acadêmico... é mais uma brincadeira de sons repetidos e digressões sobre a palavra. A palavra é um troço esquisito, não é?? Quer dizer, por si mesma, ela q não significa absolutamente nada e, mesmo assim, são as coisas mais importantes q existem... Mas não quero começar outra digressão. Ando escrevendo d+ em meus comentários ultimamente, até mesmo tenho cometido indiscrições.

Acrescento q esbarrei (numa dessas quebradas da web) com uma garota q teve uma importância capital p mim em idos da adolescência. Não tinha notícias dela há anos e fiquei feliz pelo reencontro. Qq dia arrumo uma desculpa p falar dela! Tlvz deva até publicar, na integra, as mais de 16 páginas de word de uma carta q escrevi p ela há tempos e tempos... Ainda guardo o manuscrito e o arquivo!

22.9.04

Pressões

Repentinamente:
durante a chuva,
caiu um raio & rolou uma pedra ribanceira a baixo;
em desacordos políticos,
duas vezes despencaram aviões;
meros erros de matemática
e um prédio desabou;
além dos Pilares de Hércules,
talvez um continente tenha afundado;
dentro de quantos anos alguem dirá:
"Lembrem-se do mundo inteiro que tombou?";
não haverá testemunhas,
para o fim de um sol que implodiu em buraco negro ontem...

Tudo isso apenas sobre meu crânio
esse formidável antro de ratos e idéias voláteis
que evaporam no contato com a pele.

Infinitamente concentrada
a massa total das catástrofes do universo me esmaga
espreme o fôlego de meus pulmões
e nem grito de socorro
e nem declarações planejadas dum amor sonhado há pouco
podem escapar à gravidade opressiva
que acumula no cosmos de meu corpo.

Como prêmio de consolação
fica a certeza químico-fisica
de que a pressão transformará
o carbono de que sou feito sucessivamente
em carvão e então em diamante.

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Não posso afirmar exatamente o q levou a esse texto. A intensão inicial era q ele representasse uma coisa perfeitamente outra da q aí se encontra (bem como retomar um pouco a antiga mania de enumerações, sobre a qual falei ainda ontem.). Contudo ele se transformou, um pouco a minha revelia, numa espécie de [pendantismo]cosmodisséia-das-pressões-q-uma-realidade-tida-como-episódica-e-integral-exerce-sobre-o-corpo [/pedantismo].

Pena não ter trazido meu recém-adquirido "As Memórias de Adriano"... nele consta uma frase realmente ótima sobre a questão do corpo e da alma q não sei se é do Adriano histórico, do amálgama Adriano-Yourcenar ou da própria Mme. Marguerite (sei q haverá quem não goste dela, eu mesmo não sou um de seus maiores fãs, mas "A Obra em Negro" é um bom livro!). Fico devendo.

[recados] 1 - P a leitora mais usual (não Mon, não estou falando de vc): Bom saber q vc ainda se interessa pelo q ando escrevendo ou não. Mesmo q pelos motivos errados! Recomendo leituras mais atentas no futuro, a coisa pode ser menos grave do q vc imagina!

2 - P alguém q esteve lá ontem: Foi divertido, mas minhas costas ainda estão doendo! Da próxima vez não traga utensilios de cozinha desnecessários! Boa festa nessa quinta (esqueci de gritar pelo poço do elevador)! :-)

3 - P minha fã-comentarista: Provavelmente te ligue nesse sábado, preciso q vc me retribua um favor antigo (e me permita ver o "Eu, Você, Nós" antes q ele suma novamente). Além disso faz tempo q não nos falamos cara a cara, sinto falta. [/recados]

20.9.04

Jogo

Euiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiifáciliiiiiiiiiiiiiiiiiiiienígma


obscuro/aiiiiiicontraiiiiiiiiiiiiiiiclaro/a


verdadeiiiiiiiiidifíciliiiiiiiiiiiiiiiiiiVocê

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Um outro concretismo (acho q estou pegando gosto pela coisa)... E este nem é tão vulgar assim (pronto Mon, estou elogiando um texto meu :-)! É, como qq um pode ler por si mesmo, um pqno jogo de oposições binárias de termos q, no fundo, servem de suporte p uma pqna narrativa entre dois personagens (o Eu e o Você) q emerge à medida em que se vai lendo o texto em diferentes sentidos... Sim, o texto é legível em todos os sentidos.

No interior de cada uma das leiuras individuais, os personagens serão algo antagônicos, mas à medida que se avança p as outras possíbilidades de leitura -- no eixo diacrônico, diriam alguns -- esses antagonismos se diluem e se transformam em semelhanças e ptos de contato, no final aquilo poderia se tornar um abismo se revela apenas superfícial à medida em ambos avançam dentro do próprio jogo de revelações q se estabelece... No coração de tudo, o termo "contra" dinamiza as relações de oposição e retoma à questão do "jogo" expressa no título (não por acaso as palavras estão dispostas no formado de um Jogo da Velha) q pode ser interpretado tanto qto uma disputa amistosa como uma relação tensa (é uma obra aberta e ambos os sentidos são válidos)...

Ah sim! Fiz esse texto como um presente, como uma espécie de objeto de decoração usando post-its (aqueles papeizinhos autocolantes q sempre desaparecem). Qdo a pessoa presenteada me perguntou: "mas o q vc quis dizer com isso?", não soube muito bem o q responder. O texto em si não tem msgs ocultas e não diz nada sobre nós dois especificamente (acho q todo tipo de relação cabe um pouco nesse texto)... Mas o fato de eu tê-lo escrito p essa pessoa e de ter tomado o cuidado de criar uma composição q fosse o mais engenhosa e bonita o possível já carrega uma msg por si. Hoje a resposta seria: "Simplesmente pq eu queria te dar algo bonito."

[a propósito] Como sempre acontece qdo eu tento diagramar algo pelo Blogger tive q usar caracteres em branco (o blogger continua não aceitando q o texto é meu e isso me autoriza a usar qtos espaços me der na telha!) para segurar as palavras no lugar... quem quizer reprodizir o texto ignore o bando de "is" invisíveis e vá em frente [/a propósito]

9.9.04

Irmãos de fé

Veio e passou rápida
num vôo rasante
duma beleza tão forte
que chegou marcar no chão
a forma da sombra de suas asas
desdobradas atrás de si
como fossem um tecido negro
bordado de padrões raros
com o fio da respiração suspensa
desse povo que a viu
e já não a poderia esquecer

Testemunhas anônimas dessa grandeza desmesurada de meu Deus
vista sob o disfarce de mulher-anjo voadora
tocando de relance o olhar
homens mulheres crianças
ricos pobres miseráveis defuntos
irmãos na mesma fé
atribuem ao santo de devoção
cada um com o seu próprio panteão
a graça miraculosamente alcançada
em meio às comemorações do auto
ninguém mais se lembra de perguntar
se a vida vale a pena ser vivida
que a resposta ficou clara
quando da passagem dela

--------------------------------------

Faz um tempo q não escrevo... teve o feriadão e tals! E tive outras coisas p fazer e em o q pensar! Não é uma desculpa suficiente, mas é a única q tenho à mão nesse momento.

Esse texto está no prelo (leia-se no draft) faz um tempo. Hoje terminei o dito cujo... Achei meio bobo e mal resolvido, mas faz um tempo q queria flertar com figuras de religiosidade popular. Pela falta de algo melhor publico-o!

3.9.04

Grandezas

SaiaaaaaadeaaaaaCasa!
Atenda,
o chamado da Selva!

EspaçosaaaaaaaaaaSiderais;
EstádiosaaaaaaaaaaLotados;
OaaaaaaaaaaaaaaaaMar;

Grandezasaaaaa.aaaaa.aaaaa.

Saia!
De!
Casa!
Se!
Ela!
Tiver!
Paaaaaaaraaaeaaadaaaeaaasaaa!

Orestodetudooqueexisteestádoladodefora.

Saiadesuapeleapertada!

Orestodetudooqueexisteestádoladodefora,
mas não vai entrar pelos olhos e ouvidos
e nem pela boca.
Não vai entrar pelos outros orifícios.

Saia!

Eaaaaadeixeaaaaaabertaaaaaaaaaaaaporta
atrás de si
e a casca vazia também vazia deixe,
a pele pendurada num cabide no armário.

Deixe a porta desse armário
aaaaaabaaaaaeaaaaaraaaaataaaaaaaaaaa,
que o sol possa bater na pele
e ela fique bronzeada.

Fique parado sozinho
no meio do Deserto.
Tem mais espaço num átomo
que em você inteiro

Saia para as Grandezas

Veja-as,aaaaaaaaaaAniquile-as,

Tome-as para si.

Coma as Grandezaras.

Sature-se delas ao limite da ruptura

No instante em que a consciência

Rebenta num Big-Bang subjetivo

E alucinado

Espalhe-seaaaaaaaaaaaaaaaaaaaanoaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaEspaço

Sideral:

Sinta as pessoas comprimidas no estádio vibrando um gol aos 48’’ do 2º tempo;
o mar e o deserto ; a casa e a pele
e o átomo – também o átomo!

Tudoaomesmotempoagora

E então...
E então,
Saia!

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É positivo... Perei! Tive medo q isso acontecesse eventualmente. Ontem aconteceu. Pirei! O q não é surpreza dada a semana. A jóia da coroa foi mesmo a sexta q, por motivos pessoais, foi a bosta das bostas... Mas o q vcs tem com isso, não é verdade?? Sorte q já é noite e sou gato parto (mesmo de dia), logo tudo tende a melhorar. Bom fds prolongado à todos(as)! Um bjo ao Anjo-Menina (com lágrimas nos olhos)! Um outro a uma segunda (boa sorte com ele[s])! Um bom rodeio a uma terceira (nos falamos na segunda, ou na terça. Acho.)!

Esse texto (fácil a coisa mais "concretista" q já fiz) foi escrito ontem, hoje apenas pqnas mudanças... mínimas na verdade. E algumas das mudanças (mínimas) acabaram descartadas em prol do original.

Fico pensando o q os Irmãos Campos pensariam de vissem com isso... Provavelmente ririam!

[Edit] ... mas é claro q, como sempre, o fdp do editor de texto me phode toda a diagramação... este puto não aceita uma merda de duplo espaço (ou triplo ou quadruplo) nem q eu aponte um revólver p o monitor! Não q eu fosse atirar (mesmo pq só me daria prejuízo, monitores são caros!) pq eu sou contra a violência, mas o blefe não adiantou. Estou corrigindo o problema com uns caracteres em branco! No caso de vc querer copiar o texto substitua-os por espaços e estamos conversados![/Edit]

1.9.04

As duas vozes

Duas vozes
bem diferentes entre si.

Uma íntima
entregue às atividades de prosa.

A outra, modelada em versos
das canções favoritas
e belezas de ocasião,
encontra forte procura no varejo.

Ambas são filhas
dum mesmo peito
donde emergem em turnos
carregadas em ouro e flores-de-lis
escavados no coração fundo
colhidas na vastidão d'alma
respectivamente.

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Estou dado a textos simbólico-nebulosos. Esse foi escrito anteontem e diz respeito ao sábado (existe um nome p o dia anterior ao trans-anteontem??). Fui a um desses raros sobreviventes da época em q havia videokes em cada maldita esquina e o fato é q reparei q uma das pessoas q me acompanhava têm literalmente 2 vozes (cá entre nós... canta maviosamente bem inclusive)... uma falada e outra cantada. Anotei essa informação p uso oportuno!

A propósito... quem quiser dizer q o final é brega está liberado. Sou forçado a admitir.

Desencontro

Repentinamente, nos perdemos.
Foi de forma algo misteriosa
que tudo aconteceu.

Iamos de mão dadas
a meio-caminho de campina inundada
pela luz-meio-dia dum sol-fevereiro.

E sumimos mutuamente.

No espaço aberto procuramos,
corremos tateando e gritando os nomes
um ao outro...
Sem, contudo, encontrar vestígios.

Era como se todo um mar invisível
tivesse (o)corrido repentino
e se instalado entre nós e nos ilhado,
Naufragos-Crusoés dum absurdo incomunicável.

Tentei tomar da substância de seu nome,
parte mais material de meus gritos & desesperos
e tecê-los em forma de balsa ou (melhor) ponte,
mas fui traído pela natureza sonora do engenho
desfiada em ecos que o vento maroto
emaranhava em labirintos fractais
que me deixam confuso e sem ar

E nunca mais te vi.

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Vou te contar... semana de cão... graças a Deus pelo feriado. Tenho estado entre trabalho e trabalho e trabalho... sonho... trabalho e trabalho e trabalho... Nos últimos 3 dias ouvi uma voz amiga uma única vez, o alívio durou uns 3 minutos. Depois de volta à rotina.

Pelo menos a notícia q a voz amiga trouxe foi boa o bastante p valer o dia!

O texto foi escrito ontem e reescrito (quase q dos pés a cabeça) nesse instante. Imagino q ele deva parecer algo enigmático ao primeiro contato... contudo, garanto q ele é claro como o ar matutino do Nepal (qdo não está nevando!) caso se fique apenas no plano mais genérico e se limite a curtir as imagens (mamãe me disse q elas são bem imaginativas... ela tb disse q sou lindão!). Qto ao programa mais interno de leitura mantenho-o inteiro p mim.

25.8.04

Silencio...

O Si-lên-cio.
Qdo estendido por muitos segundos entorpece a mente hiperativa do] [homem urbano acostumado ao
BARULHO!

O silêncio
é a paz
de quem não tem nenhuma.

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"P-P-Por h-hoje é só p-p-pessoal!", Gaguinho.

O dia (ontem) foi longo. Quatro poemas: A Pantera, Os sentidos, Salto da palavra e Silêncio... P compensar os dias q fico sem postar.

Esse texto foi inspirado em "O Silêncio" de Arnaldo Antunes... estava cantando a versão musicada do poema e resolvi acrescentar algo de meu ao tema. Obviamente não quero me equiparar ao AA (seria muita petulância!) e qq comparação entre esse poemete capenga e aquele q, indiretamente, o sugeriu é uma verdadeira injustiça p comigo.

Aliás, sou só eu, ou mais alguém aí fora acha a idéia de musicar "O Silêncio" um verdadeiro paradoxo. Não estou com muita paciência p fuçar o site do AA então não sei dizer se o texto surgiu como poema ou como letra... Não q isso importe... Aliás não importa nada, absolutamente nada...

... é melhor calar a boca...

Salto da palavra

Uma palavra
precariamente esquibrada
na beirada do abismo.

À partir do mirante da boca
vistoria o mundo grande.
Suspira por ele.
Flerta com com a morte,
a fala da qual não se volta.

E salta.

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Tb de ontem a noite. Achei a idéia singela. Especialmente depois de passar algumas horas lendo sobre teoria do discurson... Toda essa história de q "somos falados pelo discurso" deixa tão pouco p o indivúduo! Onde eu termino e onde (pelo amor de Deus) começam as terras devolutas da sociedade?? Maldita lógica relacional.

Nesse sentido, a semiótica é uma verdadeira lição de humildade. Deveriam ensinar um pouco de Saussure durante o catecismo. P complementar (e ajudar a compreender) o Novo Testamento!

Essa palavra personagem, doidinha pela enunciação. Creio q ela (por ser palavra isolada) deve ser pte de algum "ato falho".

Os sentidos

As mãos sentem
a textura impressa na pele do rosto
sobre os esboço do crânio
abaixo desta.

Os olhos omissos
escondem-se em buracos escavados
atrás de portas e portões
(as palpebras e mão respectivamente)
meticulosamente trancados.
Assim, isolados no escuro, fingem segurança.

Resta aos ouvidos e às narinas
o trabalho de interpretes de tudo
o que estiver fora da alçada da língua.

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Tenho escrito muito sobre mulheres. Elas me cansam! Elas são refratárias a qq explicação q se queira dar. Não q os homens sejam muito melhores nesse sentido! É na natureza dos sentimentos q nutro por mulheres onde reside o gde complicador. A Guerra dos Sexos é, afinal, uma empresa sentimental.

Esse texto foi escrito noite passada. Saiu de primeira e tive bem pouco trabalho de edição. É, de certa forma, uma fotografia... Parti da imagem de uma pessoa com os as mãos sobre o rosto para desconstrui-la nas informações sensoriais da personagem. Cubismo poético!

Só não perguntem muito sobre a última estrofe... não sei ao certo onde esse sujeito andou metendo a língua!

24.8.04

A Pantera

Aonde essa garota vai,
assim tão decidida?
Os olhos castanhos
brilhando numa fome infinita
quer comer o mundo
cru e quente
enquento ainda está suculento.
Hoje não há tempo
que a hora do almoço só tem 30 minutos
e é preciso ir ao banco
resolver um assunto...
Sempre com passos muito firmes (firmes, mas nunca duros!),
da mesma firmeza elegante
demonstrada por uma pantera à caça.
Ela investe e alcança
derruba e abate o que queira
e quando escolhe.
Quanto a mim, mero homem,
olhos cobertos de dúvida e o coração perplexo
a quem foi dado vê-la em ação e em repouso
permaneço embebido na visão
e apenas faço seguir a lógica das coisas

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Esse texto foi produzido hoje de manhã, mas surgiu a partir de uma série de recortes em observações, diálogos e processos q vêm se desenvolvendo ao longo dos últimos meses. O texto as consolida e sistematiza experiências, uma espécie de sumário. Não há muito o q explicar sobre o texto em si -- fala sobre uma mulher muito impressionante, obvio não?

Na verdade tive que reproduzi-lo a partir de um rascunho pq a versão final estava numa folha de papel solta q acabou ficando por aí... As diferenças, contudo, não são nada de tão drástico.

23.8.04

Um beijo em perspectiva

Guardo em alta conta
a memória de um beijo em particular.
Saldo dos meus anos perdidos,
os meus 25 anos perdidos.

Dele (do beijo) ficou somente o ato em si:
algo do gosto que ainda me enche a boca;
um cheiro meio persistente;
o conforto macio que o tato registrou
naquele choque entre lábios...
Pode ser que haja também outras evidências
sobre o corpo dela,
a pressão ou o calor trocados durante o abraço
(parêntesis que envolveu aquele instante).

Da portadora do beijo,
só persiste na forma da seguinte conclusão:
se houje o beijo, logo ela esteve lá.
No mais, nada resta
que ajude a montar um retrato aproximado...
nunca soube o nome
e o rosto -- por falta de uso -- se apagou da memória,
como até as estrelas se apagam um dia.

Hoje, ela subsiste encantada,
uma fêmea-fantasma
definida pelos indícios duma ausência
algo ostensiva.
Ela espreita das esquinas da cidade adormecida,
ocupando um posto em minha visão periférica
sem jamais entrar em foco.

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Outro dia lembrei meu primeiro beijo (algo num texto q li soprou involuntariamente minha memória naquela direção)... [FLASHBACK] Carnaval! EBA! Um daqueles blocos de rua (dos q não existem mais em Santos)! Gente a rodo e uma versão minha (bastante adolescente e um pouco alcoolizada) q se viu obrigada dar passagem a um bando de garotas... Passaram em fila indiana. Repentinamente uma delas passa a mão pela minha nuca, me puxa e me lasca um beijo. [/FLASHBACK]

Foi rápido demais! Só tive tempo p constatar q era realmente uma garota (dado fundamental) e, em termos gerais, o q ela pretendia. De resto não foi possível registrar nada: rosto, cor dos olhos, cabelo ou formas do corpo. Uns amigos

Tudo q sei é q ela tinha lábios muito macios!

20.8.04

O Fogo e o fogo

Tem fogo,
nesses olhos
tem fogo.
Eles têm!
E nesse corpo?
Nele também.

Carne labareda
tosta paredes
engole lençóis
devora alma
dos amantes.
Ardem tanto,
queimam alto,
consomem tudo!
Depois apagam.

Pro cigarro,
tem fogo?
A pedra trisca,
mas o isqueiro falha.
Não tem, não...

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Acho q um pouco da idéia p este texto veio daqui. É o site oficial + blog de uma garota de programa q foi, recentemente, assunto de uma reportagem do Pedro Doria para o nominimo. O P. Doria, p quem não conhece, é o rei do meme no webjornalismo brasileiro. Ele dá notícias de todo o tipo, muitas delas da mais relevante desimportância. Chego a ter certa inveja dessa liberdade!

O texto em si não tem nada a ver com a tal "Bruna", nem com as coisas q a menina fala no blog. Só foi meio inevitável fazer algo nesse sentido depois de ler ptes do diário da moça. Tlvz deva escrever algo mais específico, usa-la como um personagem propriamente dito. É, tlvz.

Ahhhh sim! O título é vagamente inspirado num conto do Júlio Cortazar...

19.8.04

6:00 am

Sono boêmio pega em armas
boceja seu grito guerreiro
contra a monotonia cacofônica
em formação e marcha.

Invasora sorrateira e insistente
dos minúsculos espaços
ainda possíveis à quietude pessoal
nos depósitos de contreto
onde se estoca carne humana.

Resistência desesperada
que minha preguia impõe
horrorizada às engrenagens
e ao horário do rush matinal

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Uma pqna consideração/divagação sobre a dificuldade de pegar no sono às 6:00 da manhã contra um trânsito dos infernos. Gostaria muito q o ser humano tivesse evoluído de alguma espécie notívaga, mas os malditos macacos tinham q ter algo de pessoal contra a diversão.

16.8.04

Casa de futuros possíveis

Por todo o caminho que conduz
à casa dos futuros possíveis
expalharei, com máximo zelo,
marcas que você saiba seguir.
Quando saudade ou curiosidade
bater nos nós da memória. Venha!
Conhecer o espaço em construção
onde mora o pedaço de vida
que sobrou quando você disse: Não!
Quis que viesse me ajudar,
juntos colonizaríamos outra gleba
nas geografias biográficas infinitas.
Você ficou. Mas eu, explorador da vida,
tive que formar nova expedição.
Gente outra partindo comigo
para este novo lugar escondido,
prenhe de tanta possibilidade
que não cabiam em nossos olhos de hoje,
mas queimavam na imaginação.
Na minha com brilho dourado.
Na sua com luzes de velório.

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Esse texto é uma cifra de alta criptografia e chave privada (creio q três pessoas apenas saberiam ler a msg por trás da msg -- e uma delas, provavelmente, nem vai chegar a vê-la). Para o "você" do texto digo q não gostaria q as coisas tivessem chegado onde chegaram e q escritas anteriores sobre uma outra casa (esse feita de passados) em Mongaguá continuam sento válidas hoje... tlvz não no sentido antigo, mas no sentimento de sempre. Amo vc "anjo-menina", mas não consigo entender esse medo q te corroi, qto menos compartilha-lo. Isso seria estuprar a mim mesmo.

Esse texto me tomou dois dias p ser escrito (bem mais q minha média de produção usual... tlvz por isso eles sejam tão ruins!) pq as vezes eu tinha q dar paradas p pensar, fumar ou respirar... não q o tema seja tão intelectualmente denso. Sentimentalmente falando foi bem mais complicado.

12.8.04

Suicídio?

Um coração
à 132 Km/h
espatifou-se contra um poste.

"Estava alcoolizado (...)
acabou perdendo o controle.",
lia-se nos laudos
que um burocrata fez publicar sobre o caso.

Acrescentou ainda
os trágicos passamentos de:
- 1 cérebro;
- 2 pulmões (em nem tão bom estado);
- 1 fígado;
- 1 baço.

Como nota de rodapé
anotou indiferente:
"(...) as estatísticas revelam que todas as vítimas eram jovens."

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Esse é um texto bastante velho q reencontrei e reescrevi hoje... Gosto qdo esse tipo de coisa acontece... Registro tb q continuo procurando pelo bom e velho "Lucas" (um personagem recorrente -- e algo autobiográfico -- q costumava dar as cara nos textos de alguns anos atrás)... faz um tempo q não o vejo (nem o personagem nem os poemas)... Se ele passar pela rua, avise q ainda estou por aí e falem desse blog...

Qto ao texto de hoje?? Bom, antes de mais nada ele é puramente ficcional, uma mistureba de metáforas orgânicas, metonímia e alguma referência à Kafka na figura de um (ora! mas quem diria) burocrata.

11.8.04

Meditação

O corpo livre
solto na dança
conspira movimentos
parceiro somente
de si mesmo

Relampagos em sucessão
Trovões de repetição
Outros corpos em vagalhão

O coletivo excitado da pista é
composto de simultaneidades superficialmente sociais.
Tudo falso, fogo fátuo, ouro de tolo.

Realidade é:
Você está sozinho no nirvana...

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Sonhei q estava numa disco e dançava... Lembrei de escrever algo sobre o assunto... Não gostei muito do resultado, mas fica como registro...

9.8.04

Déjà Vu

Durante nossa conversa (a)fiada,
de pé de ouvido,
lembro instantaneamente de você
na exata imagem de agora
e que conversáramos
das mesmas coisas
tudo misteriosamente igual:
falas, figurinos, objetos de cena.
Alvos de meticulosa continuidade.
Como se tudo não passasse
da remontagem duma peça
originalmente encenada
num passado que remetia
ao mais recente segundo da eternidade inteira.

Saturado do paradoxo,
ouço as palavras trocadas
entre meu ouvido e sua boca (ou vice-versa)
soarem no agora e no antes (ou vice-versa).
Algum efeito especial (deux ex machina!)
-- um eco (eco) (ec.) (e..) (...) --
que desbobra o presente,
cortando-o em dois.

É como se o diálogo
flexionasse a espinha
para abraçar seu gêmeo
por sobre o muro que o cartesianismo
erigira na beirada do tempo.

Nítidamente visível,
o passado bisbilhoteiro
encara (cara a cara) (olho no olho)
o presente falastrão.
Mutuamente desconfiados
de vulgar plagiarismo,
sem coragem, contudo, de acusarem-se
tal a perplexidade
de encontrarem-se
nos termos
da efusão divertida
desta nossa palestra
embalada sob efeito de vodka(s).

Dose dupla sobre dose dupla. Excesso!

Guardo inteiro,
para cismas posteriores,
aquele dos dois instantes simultâneos
devido à falha técnica
(à faixa arranhada nos discos de minha memória).
O outro, que é de consumo imediato,
compartilho infinitamente contigo.

-----------------------------------------------

A idéia p esse texto nasceu indiretamente de uma conversa q tive há nem tanto tempo numa mesa de bar. Falamos especificamente sobre déjà vus e de outras coisas q se sucederam rápida e absurdamente em gdes elípses (desde constatar q certo tiozão se parecia muito com o Seu Madruga até assuntos relativo ao Big Brother Brasil 2)... Isso foi tornando o diálogo crescentemente insólito (e divertido) até q já ríamos de nós mesmos.

Saí de lá com a decisão tomada de transfomar aquele diálogo (ou pte dele) num poema ficcional. Espero q o esforço não tenha sido apenas caos e cacofonia.

E paro de me explicar antes q soe como algum Carlos Argentino da vida (ontem reli o Aleph de Borges)...

5.8.04

Cão de Guarda

Bruto,
o cão
cheio de raiva
late, uiva, ladra, rosna
& avança
contra a grade
uma,
duas,
três,
muitas vezes.

O cão
quer o pescoço dos homens
--eles lhe ferem os olhos--
na boca
bem apertado.
Degustar o sangue
dos bichos delgados
que ignoram
o desafio lançado.
Covardes!

O cão
nunca tem medo,
porque só cabe ódio
& músculos & dentes
na sua estrutura
sólida
pesada & escura

Barulho,
aaaaaabarulho,
aaaaaabarulho...
o cão faz
o dia inteiro,
iiiiiiiiiiiinteiro,
iiiiiiiiiiiinteiro...
a noite inteira,
iiiiiiiiiiiiiiinteira,
iiiiiiiiiiiiiiinteira...
O tempo todo...

À exasperação.

Protesta contra a grade
a coleira
tudo o que limita
seu raio de ação
seu projeto de ataque
ao inimigo
logo ali.

Falta água
& comida &
sobra sol
tempo de guerra,
disciplina espartana.

Alerta constante
o cão
cercado
de gente
muita gente
de tudo que é lado,
"parece formiga".

Late, uiva, gane, ladra, rosna
pronto para briga.

Acumula na saliva,
estoca na garganta
um potencial de mordidas
já de muitos anos.

"A hora virá",
sabe com certeza
bruta,
a hora virá de surpresa
& haverá luta.

Ele então,
o cão,
tremendo nervoso
aguarda
de guarda alta.

---------------------------

Minha vizinha mantém um Rottweiller em cárcere privado. Um bruta cachorro imenso constantemente trancado entre as grades do "corredor" formado pela lateral da casa dela e o muro q divide seu terreno com o do vizinho. Um bruta cachorro q vive num espaço de uns 2m de largura por uns 3m de comprimento. Nunca vi ele fora daquele corredor, isso me dá pena. Mas o cachorro late e late e late o tempo todo... de noite ou de dia ele late... Isso me dá raiva, embora eu tenha consciência q ele tem mais raiva ainda qdo me vê passar do outro lado das grades.

Ok... aquele cão me irrita... quase tanto qto esse maldito "editor de texto"... queria uma formatação especial naquelas repetições da 3ª estrofe (algo como já fiz em Fouetté), mas o editor muda o q fiz por conta própria (tlvz ele tenha ganas de crítico literário)! Por isso tive q acochambrar tudo e apelar p uns caracteres em branco... caso vc selecione o texto eles vão aparecer, não ligue p eles... e se quiser copiar o texto p algum lugar apague os dito cujos sem dó.

4.8.04

...

Entre aquele
e aquela
um vão,
fosso intransponível
preenchido com a matéria
de que são feitas as reticências...

--------------------------------------------

Fazia um tempo q não escrevia "pílulas" (se bem q esse aí é praticamente uma drágea)... a idéia por trás dele é bem simples... um cara e uma garota, algo a ser dito mas q fica sempre no ar seja lá por q motivo for... Aposto q muita gente conhece a sensação... se vc já gostou da namorada de um amigo, se já se descobriu repentina e perdidamente apaixonado por aquela sua amiga especial ou se, simplesmente, caiu de amores pela garota com quem vc sabia q jamais rolaria nada... Bem vindo ao time! Provavelmente se formassemos um sindicato seriamos maiores q a Força e a CUT juntas...

Ahhhh sim... Apesar de eu gostar da idéia q permeia o poema devo admitir q ela é bem simples e ficaria bastante surpreso caso ninguém tenha feito algo parecido antes... se for o caso não foi um "plágio" intencional, basta avisar e eu tiro do ar...

Marujos

Aceso o farol brilha
apagado já não
a verdade da ilusão
feita de chegadas e reencontros
resumida num rochedo

Dente canino do oceano
que mordeu forte as canelas do barco
partindo os ossos de pau
e mastigou a carne de madeira
dos corpos marinheiros a deriva
adernados da vida

Ontem tripulação
hoje vagabundos preguiçosos
que nadam no azul
desfrutam do sol
aproveitam a brisa salgada
finalmente turistas
podem brincar no mar
------------------------------------------------

Não há um motivo p ter escrito isso... simplesmente o primeiro verso surgiu em minha cabeça já emendado no segundo... o resto foi emergindo aos poucos... aqui e ali...

No fundo, acho q o texto fala sobre a questão do trabalho. Esse monstrinho sacana q nos suga a vida de canudinho... não q eu seja 100% favorável ao ócio total (não teria criado esse blog se fosse esse o caso), mas tlvz tenhamos ido um pouco longe d+ no tal capitalismo selvagem. Ahab (q não chega a aparecer no texto, embora goste de pensar q o capitão fosse algo parecido com ele) hoje é um executivo MBAzado q fustiga seus marinheiros gritando "eficiência" sempre atrás de um certo Mercado Baleia Branca...

30.7.04

Alguma notas...

NOTA 1 - Qdo eu comecei este blog a ambição era postar novo texto a cada dia. Meio o Calendário Musical do mítico Hermeto Pascoal. Tola ambição de um tolo sujeito... Mas, o diabo é q uma tal vida às vezes nos atropela (especialmente qdo vc tem um chefe e um vínculo empregatício. Pq aí, meninos e menina, phode tudo de vez!!)... Simplesmente não tive tempo!! Prometo tentar me corrigir!!

NOTA 2 - Comentário à "Canalha Morto":

"Anonymous said...
e ainda tem a capacidade de nomear o blog de poesia commum??????????"

Errrr... devo admitir q não entendi direito o q o Sr(a) Anonymous (se é q é tão anomimous assim, creio q não tenha ninguém vindo aqui além de uns esparsos amigos) quer dizer... isso tanto pode ser um elogio (seria a minha poesia incommum??) mas pode ser q seja tb alguém meio puto da vida com o crasso "erro de ortografia" logo no título do blog... Nesse caso eu tranquilizo o visitante, o erro foi totalmente intencional. Um trocadilho bobo com o duplo "M" no nome da Licença Creative Commons q adotei p os textos publicados nesse espaço...

Faz um tempo, aliás, q planejo falar melhor do q é a CC e do pq eu acredito q ela seja uma boa idéia... mas, como deixei claro na nota acima, estou meio ocupado hoje...

De uma forma ou de outra praticamente tudo o q vcs precisam saber p começar a entender o assunto e suas implicações pode ser encontrado no site oficial da CC.

28.7.04

Canalha Morto

Uma sombra de cão te acompanha
na curta caminhada que te resta.
De tua vida já nada mais presta
roída pela fome foi até entranha.

O teu corpo acabou. É fim de festa!
Levastes a vida numa via tão estranha
tão pútrida, tão torta, tão tacanha...
A terra onde te deitam já se cresta

Recusa abrigar tamanha miséria.
Poderá conter uma fina mortalha
todo mar de peçonha em tua matéria?

Haverá alguma bela flor de escolha,
Requiém, opus, dobre, missa funéria
Capaz de honrar tamanho canalha?

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Sabe esse papo extremamente parnasiano de:
"Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"

Um gde exagero. Sempre detestei os parnasianos, tenho uma birra pessoal com o Olavo Bilac desde q descobri, aos 18, q o cretino foi um dos defensores do serviço militar obrigatório! (GRRRRRR!). Além disso essa coisa toda de "a arte pela arte". Sinceramente. Q pusta bando de mala: "Vou dizer absolutamente lhufas, mas tecnicamente vai ser perfeito". Isso é discurso demagógico...

Mas isso foi qdo eu tinha 18 anos e é muito mais contra o discurso e ideologia da arte parnasianos do q contra os poetas e poesias propriamente ditos... além disso aos poucos vc vai descobrindo gente q usa as formas clássicas p passar msgs anárquicas. Falo do Glauco Matoso, ele é ótimo (especialmente qdo não é típico).

Atualmente ando tentando redescobrir a vida inteligente do soneto. Obviamente, não é o caso desse. Ele foi mais um treinamento de técnica, uma forma de dizer "viu tb sei fazer". Outros sonetos estão em meus planos futuros, mas por enquanto é mesmo verso livre e rima branca.


Fouetté

No centro do turbilhão
rodando & rodando
espiralando mobilidades
concêntricas
pura translação
sobre um eixo
(paradoxo estático do deslocamento)
umbigo do mundo
onde o pé toca o chão 
enquanto a vista
descortina horizontes
maiores & maiores
motocontínuos
que chegam perto
                               junto
                                      dentro
até a identidade acontecer
na total vertigem da
mistura dos dois circulos

Circunscrito ativo
ela que gira no mundo
Passivo que circunscreve
no mundo que ela gira

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Mais um de meus poemas sobre coisas q vi de passagem... no caso, foi uma garota demonstrando alguma pirueta de ballet. Aquela visão me atraiu bastante (não q ela fosse particularmente atraente - muito pelo contrário - ela apenas parecia, sei lá, ajustada... perfeitamente contente consigo mesma por estar fazendo aquilo q queria fazer naquele exato momento). 

Isso foi o tiro de largada p uma série de especulações pessoais sobre a questão da completude através de um gesto físico e de como esse sentimento age sobre o indivíduo... tb me interessou a questão do pto de vista (afinal a garota via o mundo girar ao seu redor, tlvz como um parceiro de dança, e isso não deixa de ter algo de mágico em si mesmo... comanadar o mundo pelo gesto), a vertigem enquanto fonte de prazer pela dissolução da consciência (q todos esperimentamos qdo crianças - ou vc nunca rodou até ficar tonto??), etc, etc, etc...

Agradecimento à consultoria especial q me deram em relação ao título:
"Do termo francês fouetté (chicote). É todo movimento seco (chicoteado)feito pela perna, ou pela perna e corpo, quando este faz um movimento, virando para o lado contrário da perna."

Na verdade eu não sei se era esse o movimento q a tal garota estava demonstrando... mas gostei do som!




27.7.04

Sobre Mongaguá

O Anjo-Menina
é bicho pequeno
estendido macio
na cama que quero

Abençoa meu olho
teu corpo no cio
queimando sereno
o quarto inteiro

cativa e expulsa
reclama e deseja
arranha e me beija
tentando provar

do mistério do sexo
há tanto escondido
pelo manto puído
de vergonha e pecado

esquece ligeiro
dessa ladainha
espreme teu corpo
libera teu cheiro

rala e escava
sua e resmunga
cala e me embala
buscando rasgar

esse véu virtuoso
mas tão obscuro
encobrindo no rosto
a malícia e o gozo

no final nos misturo
me costuro contigo
desperto o infinito
de mulher em teu peito

grita e rebenta
sangra e empolga
exulta e me ama
é o fim da refrega

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hehehehehehehehehe... um poema relativamente antigo do qual gosto muito... Embora mais por motivos pessoais - e um tanto qto óbvios - do q pelos - muito questionáveis - méritos artísticos ou técnicos... Acho q o Anjo-Menina gostaria q eu falasse dela (ela quase sempre gosta qdo faço isso), mas isso seria misturar vida pessoal nos comentários prosaicos q venho colando ao final de cada texto e isso aqui é p ser um caderninho pessoal de poesia e não um diário íntimo... por isso calo... ;-)

Se tem algo q gosto no texto é o rítmo, esse é o gde potencial nele... mas tecnicamente ele não é lá muito bom pelo fato de ter sido composto num esquema meio "escrita automática" (tenho outras esperiências constrangedoras na área) na verdade pretendo retrabalhá-lo eventualmente... quero dua coisas: tentar ajusta-lo a uma métrica rígida (penso especialmente em redondilha p dar um certo ar de cantiga); encontrar uma solução de verdade p as rimas... é bem provavel q esse poema sofra diversas edições em um futuro bem próximo...

22.7.04

Um Pequeno Desastre

Sou culpado
pelo copo ter caído da mesa
queda livre em câmera lenta
triplo mortal antes do chão
onde, de pronto, partiu-se.

Multitude de estrelinhas em disparada
compondo caleidoscópio de luz cortante

Poucas vítimas
- nenhuma fatal -
destes bastardos filhos do descuido,
elas sentem dores e vertem sangue.

Empático, me envergonho e enrubesço
sem compartilhar no sofrimento que causei,
contudo, acrescentado ao acervo particular
que carrego sempre comigo.


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Madrugadas são feitas p escrever. Talvez por causa do silêncio. Talvez pq sempre me sinta solitário depois das 2h. Talvez pq tenha engolido o clichê do "poeta sonâmbulo" como um peixe engole o anzol... Este texto é o de ontem (venho procurando manter a saudável média de um por dia, na esperança de q a máxima "quantidade gera qualidade" dê as caras no fechamento do balancete anual).

O poema trata do q ele trata e pto final. Acho q ninguém precisa de treinamento formal em análise semiológica do discurso p compreender as pqnas culpas.... aquelas pqnas bobagens se acumulam até surgirem - como um Fantasma do Pai de Hamlet da tragédia sem graça - p reclamar por vingança. Em geral minha resposta seria "oi, é comigo meu Sr??"... Mas, ontem eu resolvi escrevê-las.



21.7.04

Flor de Carne

Uma ferida brotou no chão do corpo,
rosa de carne muito perfumada
que florescendo me devasta. Ela traz no topo
da haste espinhosa um botão de cor avermelhada.

Doente de lirismo aguardo o tempo
quando possa apresentar à minha amada
a flor-paixão que, por escolha, não interrompo,
mesmo sabendo que poderia ser curada.

Cônscio, decidi deitar a cabeça ao cepo.
Que o amor carrasco a leve decaptada,
junto com os pudores nos quais hoje eu cuspo.

Basta da esterilidade segura. É alvorada
deste lado do mundo! O sentimento dói, mas cresce limpo
em terra onde já não crescia nada.

...........................................................

Ok, ok, ok!! Eu sei perfeitamente... pode xingar e pode bater pq eu mereço mesmo!! Soneto livre de rima A B é mais feio do q bater na mãe em noite de Natal... q cuspir no avô pq ele não te deu aquela grana com a qual vc estava contando p comprar o fumo do fim de semana...

Mas, tem algo nesse texto q me agrada. E muito. Algum "nem exatamente sei o q" de romantismo derramado q o permeia. Ou pode ser q eu esteja só querendo salvar as aparências... Ahhhh sei lá. Ele está aí e aí ele vai ficar.

A Ave

Eu que sou feio
mil vezes infecto
matéria de lodo opaco
irremediavelmente atada ao chão
sempre coberto de pó
tanto pó que chega a entranhar na alma

Eu que olho para o alto
somente por considerações meteorológicas
precisado como sou dos olhos para vigiar buracos
colocados à frente, atrás e dos lados
que tenho mão boas apenas
para cavar a terra em valas
e acumular calos amarelados

Infinitamente desajeitado

Quisera um dia matar a ave vaidosa
que só faz semear músicas ao vento
enquanto multiplica a quentura do sol
pelo número de penas cor de cobre
alinhavadas à cinzel naquele corpo
inteiro feito de assombros

O pau de que me servi
As pedras que atirei
As injúrias que gritei;
O nó que engoli;

Foram todos perdidos quando ela
num fácil bater de asas
envolveu-se no enorme manto azul do céu que lhe servia de adorno
e nele escondeu de mim para sempre
sua forma, sua cor e seu som

 

20.7.04

Briga de Faca

A faca
objeto de aço
objeto do medo.
 
A faca
objetivo é o corte
e é a ponta
riscadora de pele
comedora da carne
invasora da privacidade do corpo.
 
A faca
é o vetor da tragédia
das vidas equilibristas
que pendem no fio
confiantes apenas no equilíbrio acrobático
para evitar o encontro final com o chão
e a humilhação frente ao público pagante.
 
Lampejo, silvo agudo e rebrilho
tudo contido em seu trajeto-avante.
Se nesse caminho encontra uma irmã,
grita dissonante e explicita efusiva
o fogo de sentimentos de ciúme e paixão
feitos de encomenda para caberiam apenas num tango
que ainda está para ser finalizado.


19.7.04

começando...

eu nunca soube começar algo sem efetivamente começá-la no mesmo instante. Nunca me dei muito bem com essa coisa de planejamento, mesmo porque um plano é a coisa mais adiável que eu conheço. Graças a Deus por isso! Não fosse assim, eu certamente estaria esmagado sob toneladas de papel e tinta (cheios do mais puro desperdício literário, diga-se de passagem).
 
o objetivo principal desse blog é tentar disciplinar minha produção de poesia... se alguém vai ler ou se importar com a bobagenzada que eu tenho a petulância de escrivinhar de mim para mim mesmo fica a cargo de cada leitor.. os textos aqui serão publicados sob a licensa Creative Commons (CC, para os intmos)... mas sobre isso e sobre meus poemas propriamente ditos eu falo amanhã pq agora eu tenho q ir...
 
até mais