23.8.04

Um beijo em perspectiva

Guardo em alta conta
a memória de um beijo em particular.
Saldo dos meus anos perdidos,
os meus 25 anos perdidos.

Dele (do beijo) ficou somente o ato em si:
algo do gosto que ainda me enche a boca;
um cheiro meio persistente;
o conforto macio que o tato registrou
naquele choque entre lábios...
Pode ser que haja também outras evidências
sobre o corpo dela,
a pressão ou o calor trocados durante o abraço
(parêntesis que envolveu aquele instante).

Da portadora do beijo,
só persiste na forma da seguinte conclusão:
se houje o beijo, logo ela esteve lá.
No mais, nada resta
que ajude a montar um retrato aproximado...
nunca soube o nome
e o rosto -- por falta de uso -- se apagou da memória,
como até as estrelas se apagam um dia.

Hoje, ela subsiste encantada,
uma fêmea-fantasma
definida pelos indícios duma ausência
algo ostensiva.
Ela espreita das esquinas da cidade adormecida,
ocupando um posto em minha visão periférica
sem jamais entrar em foco.

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Outro dia lembrei meu primeiro beijo (algo num texto q li soprou involuntariamente minha memória naquela direção)... [FLASHBACK] Carnaval! EBA! Um daqueles blocos de rua (dos q não existem mais em Santos)! Gente a rodo e uma versão minha (bastante adolescente e um pouco alcoolizada) q se viu obrigada dar passagem a um bando de garotas... Passaram em fila indiana. Repentinamente uma delas passa a mão pela minha nuca, me puxa e me lasca um beijo. [/FLASHBACK]

Foi rápido demais! Só tive tempo p constatar q era realmente uma garota (dado fundamental) e, em termos gerais, o q ela pretendia. De resto não foi possível registrar nada: rosto, cor dos olhos, cabelo ou formas do corpo. Uns amigos

Tudo q sei é q ela tinha lábios muito macios!

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