30.7.04

Alguma notas...

NOTA 1 - Qdo eu comecei este blog a ambição era postar novo texto a cada dia. Meio o Calendário Musical do mítico Hermeto Pascoal. Tola ambição de um tolo sujeito... Mas, o diabo é q uma tal vida às vezes nos atropela (especialmente qdo vc tem um chefe e um vínculo empregatício. Pq aí, meninos e menina, phode tudo de vez!!)... Simplesmente não tive tempo!! Prometo tentar me corrigir!!

NOTA 2 - Comentário à "Canalha Morto":

"Anonymous said...
e ainda tem a capacidade de nomear o blog de poesia commum??????????"

Errrr... devo admitir q não entendi direito o q o Sr(a) Anonymous (se é q é tão anomimous assim, creio q não tenha ninguém vindo aqui além de uns esparsos amigos) quer dizer... isso tanto pode ser um elogio (seria a minha poesia incommum??) mas pode ser q seja tb alguém meio puto da vida com o crasso "erro de ortografia" logo no título do blog... Nesse caso eu tranquilizo o visitante, o erro foi totalmente intencional. Um trocadilho bobo com o duplo "M" no nome da Licença Creative Commons q adotei p os textos publicados nesse espaço...

Faz um tempo, aliás, q planejo falar melhor do q é a CC e do pq eu acredito q ela seja uma boa idéia... mas, como deixei claro na nota acima, estou meio ocupado hoje...

De uma forma ou de outra praticamente tudo o q vcs precisam saber p começar a entender o assunto e suas implicações pode ser encontrado no site oficial da CC.

28.7.04

Canalha Morto

Uma sombra de cão te acompanha
na curta caminhada que te resta.
De tua vida já nada mais presta
roída pela fome foi até entranha.

O teu corpo acabou. É fim de festa!
Levastes a vida numa via tão estranha
tão pútrida, tão torta, tão tacanha...
A terra onde te deitam já se cresta

Recusa abrigar tamanha miséria.
Poderá conter uma fina mortalha
todo mar de peçonha em tua matéria?

Haverá alguma bela flor de escolha,
Requiém, opus, dobre, missa funéria
Capaz de honrar tamanho canalha?

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Sabe esse papo extremamente parnasiano de:
"Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"

Um gde exagero. Sempre detestei os parnasianos, tenho uma birra pessoal com o Olavo Bilac desde q descobri, aos 18, q o cretino foi um dos defensores do serviço militar obrigatório! (GRRRRRR!). Além disso essa coisa toda de "a arte pela arte". Sinceramente. Q pusta bando de mala: "Vou dizer absolutamente lhufas, mas tecnicamente vai ser perfeito". Isso é discurso demagógico...

Mas isso foi qdo eu tinha 18 anos e é muito mais contra o discurso e ideologia da arte parnasianos do q contra os poetas e poesias propriamente ditos... além disso aos poucos vc vai descobrindo gente q usa as formas clássicas p passar msgs anárquicas. Falo do Glauco Matoso, ele é ótimo (especialmente qdo não é típico).

Atualmente ando tentando redescobrir a vida inteligente do soneto. Obviamente, não é o caso desse. Ele foi mais um treinamento de técnica, uma forma de dizer "viu tb sei fazer". Outros sonetos estão em meus planos futuros, mas por enquanto é mesmo verso livre e rima branca.


Fouetté

No centro do turbilhão
rodando & rodando
espiralando mobilidades
concêntricas
pura translação
sobre um eixo
(paradoxo estático do deslocamento)
umbigo do mundo
onde o pé toca o chão 
enquanto a vista
descortina horizontes
maiores & maiores
motocontínuos
que chegam perto
                               junto
                                      dentro
até a identidade acontecer
na total vertigem da
mistura dos dois circulos

Circunscrito ativo
ela que gira no mundo
Passivo que circunscreve
no mundo que ela gira

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Mais um de meus poemas sobre coisas q vi de passagem... no caso, foi uma garota demonstrando alguma pirueta de ballet. Aquela visão me atraiu bastante (não q ela fosse particularmente atraente - muito pelo contrário - ela apenas parecia, sei lá, ajustada... perfeitamente contente consigo mesma por estar fazendo aquilo q queria fazer naquele exato momento). 

Isso foi o tiro de largada p uma série de especulações pessoais sobre a questão da completude através de um gesto físico e de como esse sentimento age sobre o indivíduo... tb me interessou a questão do pto de vista (afinal a garota via o mundo girar ao seu redor, tlvz como um parceiro de dança, e isso não deixa de ter algo de mágico em si mesmo... comanadar o mundo pelo gesto), a vertigem enquanto fonte de prazer pela dissolução da consciência (q todos esperimentamos qdo crianças - ou vc nunca rodou até ficar tonto??), etc, etc, etc...

Agradecimento à consultoria especial q me deram em relação ao título:
"Do termo francês fouetté (chicote). É todo movimento seco (chicoteado)feito pela perna, ou pela perna e corpo, quando este faz um movimento, virando para o lado contrário da perna."

Na verdade eu não sei se era esse o movimento q a tal garota estava demonstrando... mas gostei do som!




27.7.04

Sobre Mongaguá

O Anjo-Menina
é bicho pequeno
estendido macio
na cama que quero

Abençoa meu olho
teu corpo no cio
queimando sereno
o quarto inteiro

cativa e expulsa
reclama e deseja
arranha e me beija
tentando provar

do mistério do sexo
há tanto escondido
pelo manto puído
de vergonha e pecado

esquece ligeiro
dessa ladainha
espreme teu corpo
libera teu cheiro

rala e escava
sua e resmunga
cala e me embala
buscando rasgar

esse véu virtuoso
mas tão obscuro
encobrindo no rosto
a malícia e o gozo

no final nos misturo
me costuro contigo
desperto o infinito
de mulher em teu peito

grita e rebenta
sangra e empolga
exulta e me ama
é o fim da refrega

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hehehehehehehehehe... um poema relativamente antigo do qual gosto muito... Embora mais por motivos pessoais - e um tanto qto óbvios - do q pelos - muito questionáveis - méritos artísticos ou técnicos... Acho q o Anjo-Menina gostaria q eu falasse dela (ela quase sempre gosta qdo faço isso), mas isso seria misturar vida pessoal nos comentários prosaicos q venho colando ao final de cada texto e isso aqui é p ser um caderninho pessoal de poesia e não um diário íntimo... por isso calo... ;-)

Se tem algo q gosto no texto é o rítmo, esse é o gde potencial nele... mas tecnicamente ele não é lá muito bom pelo fato de ter sido composto num esquema meio "escrita automática" (tenho outras esperiências constrangedoras na área) na verdade pretendo retrabalhá-lo eventualmente... quero dua coisas: tentar ajusta-lo a uma métrica rígida (penso especialmente em redondilha p dar um certo ar de cantiga); encontrar uma solução de verdade p as rimas... é bem provavel q esse poema sofra diversas edições em um futuro bem próximo...

22.7.04

Um Pequeno Desastre

Sou culpado
pelo copo ter caído da mesa
queda livre em câmera lenta
triplo mortal antes do chão
onde, de pronto, partiu-se.

Multitude de estrelinhas em disparada
compondo caleidoscópio de luz cortante

Poucas vítimas
- nenhuma fatal -
destes bastardos filhos do descuido,
elas sentem dores e vertem sangue.

Empático, me envergonho e enrubesço
sem compartilhar no sofrimento que causei,
contudo, acrescentado ao acervo particular
que carrego sempre comigo.


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Madrugadas são feitas p escrever. Talvez por causa do silêncio. Talvez pq sempre me sinta solitário depois das 2h. Talvez pq tenha engolido o clichê do "poeta sonâmbulo" como um peixe engole o anzol... Este texto é o de ontem (venho procurando manter a saudável média de um por dia, na esperança de q a máxima "quantidade gera qualidade" dê as caras no fechamento do balancete anual).

O poema trata do q ele trata e pto final. Acho q ninguém precisa de treinamento formal em análise semiológica do discurso p compreender as pqnas culpas.... aquelas pqnas bobagens se acumulam até surgirem - como um Fantasma do Pai de Hamlet da tragédia sem graça - p reclamar por vingança. Em geral minha resposta seria "oi, é comigo meu Sr??"... Mas, ontem eu resolvi escrevê-las.



21.7.04

Flor de Carne

Uma ferida brotou no chão do corpo,
rosa de carne muito perfumada
que florescendo me devasta. Ela traz no topo
da haste espinhosa um botão de cor avermelhada.

Doente de lirismo aguardo o tempo
quando possa apresentar à minha amada
a flor-paixão que, por escolha, não interrompo,
mesmo sabendo que poderia ser curada.

Cônscio, decidi deitar a cabeça ao cepo.
Que o amor carrasco a leve decaptada,
junto com os pudores nos quais hoje eu cuspo.

Basta da esterilidade segura. É alvorada
deste lado do mundo! O sentimento dói, mas cresce limpo
em terra onde já não crescia nada.

...........................................................

Ok, ok, ok!! Eu sei perfeitamente... pode xingar e pode bater pq eu mereço mesmo!! Soneto livre de rima A B é mais feio do q bater na mãe em noite de Natal... q cuspir no avô pq ele não te deu aquela grana com a qual vc estava contando p comprar o fumo do fim de semana...

Mas, tem algo nesse texto q me agrada. E muito. Algum "nem exatamente sei o q" de romantismo derramado q o permeia. Ou pode ser q eu esteja só querendo salvar as aparências... Ahhhh sei lá. Ele está aí e aí ele vai ficar.

A Ave

Eu que sou feio
mil vezes infecto
matéria de lodo opaco
irremediavelmente atada ao chão
sempre coberto de pó
tanto pó que chega a entranhar na alma

Eu que olho para o alto
somente por considerações meteorológicas
precisado como sou dos olhos para vigiar buracos
colocados à frente, atrás e dos lados
que tenho mão boas apenas
para cavar a terra em valas
e acumular calos amarelados

Infinitamente desajeitado

Quisera um dia matar a ave vaidosa
que só faz semear músicas ao vento
enquanto multiplica a quentura do sol
pelo número de penas cor de cobre
alinhavadas à cinzel naquele corpo
inteiro feito de assombros

O pau de que me servi
As pedras que atirei
As injúrias que gritei;
O nó que engoli;

Foram todos perdidos quando ela
num fácil bater de asas
envolveu-se no enorme manto azul do céu que lhe servia de adorno
e nele escondeu de mim para sempre
sua forma, sua cor e seu som

 

20.7.04

Briga de Faca

A faca
objeto de aço
objeto do medo.
 
A faca
objetivo é o corte
e é a ponta
riscadora de pele
comedora da carne
invasora da privacidade do corpo.
 
A faca
é o vetor da tragédia
das vidas equilibristas
que pendem no fio
confiantes apenas no equilíbrio acrobático
para evitar o encontro final com o chão
e a humilhação frente ao público pagante.
 
Lampejo, silvo agudo e rebrilho
tudo contido em seu trajeto-avante.
Se nesse caminho encontra uma irmã,
grita dissonante e explicita efusiva
o fogo de sentimentos de ciúme e paixão
feitos de encomenda para caberiam apenas num tango
que ainda está para ser finalizado.


19.7.04

começando...

eu nunca soube começar algo sem efetivamente começá-la no mesmo instante. Nunca me dei muito bem com essa coisa de planejamento, mesmo porque um plano é a coisa mais adiável que eu conheço. Graças a Deus por isso! Não fosse assim, eu certamente estaria esmagado sob toneladas de papel e tinta (cheios do mais puro desperdício literário, diga-se de passagem).
 
o objetivo principal desse blog é tentar disciplinar minha produção de poesia... se alguém vai ler ou se importar com a bobagenzada que eu tenho a petulância de escrivinhar de mim para mim mesmo fica a cargo de cada leitor.. os textos aqui serão publicados sob a licensa Creative Commons (CC, para os intmos)... mas sobre isso e sobre meus poemas propriamente ditos eu falo amanhã pq agora eu tenho q ir...
 
até mais