7.3.16

O homem de madeira

São fundas,
                   muito fundas mesmo,
                                                       as raízes do Homem de Madeira
que permanece de pé onde sua semente primeiro brotou
desde que sua semente primeiro brotou.

Seus tendões e músculos
para sempre retesados.

Olha insistentemente na direção
em que cresceram as flores de seus olhos.

Vislumbrando o mistério permanente
de se é para lá que deve ir juntar-se ao futuro;
ou se foi de lá que vieram seus antepassados.

São fundas suas raízes. É gretada a sua pele.

Por esses rasgos feitos de passado e de sol,
se depositam partículas finíssimas de poeira da terra.
Acumuladas pela paciência das décadas.
E das coisas que, porque nunca souberam de si mesmas,
são infinitamente livres.

São fundas
                   muito fundas mesmo
                                                      as raízes
                                                                     no diálogo com a água
                                                                                                          que trava no escuro dos escuros.

O Homem de Madeira
tem dedos finos como garras
com as quais arranha a superfície sedosa da brisa

E uma boca muda que murmura
cantigas falando de coisas esquecidas
por serem ameaçadoras demais
para o disperso e frágil mundo dos que se movem e se agitam
de um lado para outro

Cantigas assustadoras
Para quem não tem a benção de músculos e tendões duros como madeira
e pele espessa
e garras afiadas
e raízes fundas
                         muito fundas mesmo

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