São fundas,
muito fundas mesmo,
as raízes do Homem de Madeira
que permanece de pé onde sua semente primeiro brotou
desde que sua semente primeiro brotou.
Seus tendões e músculos
para sempre retesados.
Olha insistentemente na direção
em que cresceram as flores de seus olhos.
Vislumbrando o mistério permanente
de se é para lá que deve ir juntar-se ao futuro;
ou se foi de lá que vieram seus antepassados.
São fundas suas raízes. É gretada a sua pele.
Por esses rasgos feitos de passado e de sol,
se depositam partículas finíssimas de poeira da terra.
Acumuladas pela paciência das décadas.
E das coisas que, porque nunca souberam de si mesmas,
são infinitamente livres.
São fundas
muito fundas mesmo
as raízes
no diálogo com a água
que trava no escuro dos escuros.
O Homem de Madeira
tem dedos finos como garras
com as quais arranha a superfície sedosa da brisa
E uma boca muda que murmura
cantigas falando de coisas esquecidas
por serem ameaçadoras demais
para o disperso e frágil mundo dos que se movem e se agitam
de um lado para outro
Cantigas assustadoras
Para quem não tem a benção de músculos e tendões duros como madeira
e pele espessa
e garras afiadas
e raízes fundas
muito fundas mesmo
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