21.9.15

(de)VOLTA

Ao apagar das luzes
resta no céu ainda uma estrela opaca
de quinta geração que,
num pano de fundo imponderavelmente antigo, permanece
à espera de troco numa contabilidade cármica impossível de fechar.

Toda feita de suspiros, memórias de terceira mão e átomos de elementos pesados
decaídos. A estrela acumula os escombros de um universo a caminho do fim.

Não tem medo
Isso já passou
Não está solitária
Isso já passou
Não está melancólica ou furiosa ou frustrada
Isso já passou
Não está orgânica
porque já não é mais tempo para saltitantes coisas vivas
Mesmo a perene Ordem Mineral
está sendo, aos poucos, dissolvida
pelas ondas do Mar Entropia
que circunscreve tudo
com sua névoa rarefeita 
e indistinta de esterilidade
que espalha, enfim, a paz definitiva

Resta a essa estrela um sorriso irônico
quase esquecido de si
porque ela guarda na manga da camisa
o último 5 de copas

Não que isso possa reverter a ordem das coisas,
mas, no fim, permitirá que seja sua a última palavra.

Se o princípio coube ao verbo,
que o final seja um expletivo.

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Depois de muito (muito tempo) afastado desse espaço. Estou de volta. Não sei se em definitivo, mas, pelo menos, por alguns tempos.

Fiz algumas modificações no texto para deixá-lo um pouco mais de acordo com a imagem inicial da qual parti. Mudei um tanto a imagem da Entropia fazendo dele um mar que vai lavando os castelos de areia da realidade. Tb removi a imagem do Valete de Copas para que não achem que havia alguma imagem romântica cifrada (esse poema é sobre coisas e não pessoas) e modifiquei a imagem redenção que a posse dessa cartada final coloca no texto.

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