1.10.07

Cana de açucar na Amazônia

Que venham os biocombustíveis porque os fósseis já vão tarde. Só não tenho bem idéia de a que custo eles virão.

Atualmente a lógica do desmatamento da Amazônia funciona mais ou menos na seguinte ordem:

1 - Os ocupantes tradicionais de uma área são expulsos à força de bala, de porrete ou de intimidação pelos "legítimos donos da terra" -- que invariavalmente são grileiros.

2 - Os novos donos repassam o terreno para madereiras -- deles mesmos ou de terceiros -- que fazem a festa deitando a floresta ao chão literalmente por bagatela. Como ficou bem mais barato para a parte séria do mercado comprador de madeira -- mobiliário, pisos e indústria de decoração em geral -- produzir com chapas de aglomerado oriundo de florestas plantadas e certificadas sobraram às serrarias ilegais o mercado negro de madeira de lei (não seja inocente de achar que tal coisa não exista), o mercado de segunda linha (escoras para construção, marceneiros de rebotalho etc) e o verdadeiro poço sem fundo que é o mercado de lenha e de carvão para grandes indústrias... É nos fornos das siderúrgicas que a Amazônia vem se acabando!

2 - Uma vez livre das árvores, é a vez do gado avançar sobre o terreno. É nesse ponto que o grileiro procura legitimar sua nova fazenda com hectares e mais hectares de pastagem para a criação de gado em sisterma extensivo -- uma mui viva excressencia de nosso concentrado sistema fundiário... ou vende "sua" terra para algum agroempreendedor que vá fazer semelhante miséria.

3 - Na ponta final desse processo estão os ávidos plantadores de soja. Como a soja é de longe mais lucrativa do que a pecuária, sempre que um barão da oleoginosa quer crescer ele bota sua conta bancária para trabalhar e adquire uma nova fazenda de algum pecuarista em apuros. O pecuarista pega a bolada e logo começa uma nova rodada de grilagem ou de aquisições de propriedade que o(s) grileiro(s) original(is) e as serrarias deixaram limpinhas e prontas para os rebanhos...

E assim vai o "agrobusiness" amazônico vai tocando sua melodia cínia. Claro que os empresários da soja acham que suas mãos estão limpas da sujeira que os grileiros fizeram para formar as fazendas. Evidentemente, não passa de desculpa, nem um tiquinho menos furada que as dos playboys maconheiros escandalizados com a bem armada violência dos traficantes. Queiram ou não os pudorentos segundos, são eles os principais financiadores das reprováveis atividades dos primeiros.

Se as perspectivas da mata já não eram das melhores só com a pressão criada pela oleoginosa que deverá (a despeito das repetidas negativas) nos abastecer de biodíesel, imagine quado a cana de açucar e o etanol derem com os costados por lá.

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