8.10.07

Apagão

O pessoal responsável por investigar se houve ou não excesso durante a resposta da PM aos ataques comandados pelo PCC em 2006 -- e que deixaram um rastro de 104 corpos -- acaba de descobrir que uma providencial pane nos equipamentos que deveriam gravar as chamadas feitas para o sistema 190 os impedirá de comparar chamadas e os alegados episódios de enfrentamento entre polícia e bandidos. Gravadores e o chamado Data Digital Storage -- que deveria funcionar como back up -- estiveram fora do ar durante o grosso da crise.

Quem tiver memória vai lembrar que a resposta da PM empilho nada menos que 104 corpos sob a alegação de que os policiais estavam apenas respondendo ao fogo dos marginais. Do lado direitóide das trincheiras, gosta-se muito de lembrar o clima de guerra sob o qual estávamos vivendo naqueles dias para fazer a carnificina que se seguiu coisa de menor importância. Não é.

Claro que os homens e mulheres da corporação -- quem já se arriscam todos os dias por pouco mais que ninharia e sense de dever -- merecem toda a nossa simpatia, especialmente quanto um poder criminoso transforma a farda em alvo. Antes que alguém se confunda: são eles os mocinhos. Além disso, vamos admitir que o PCC provocou por provocar, não deveria surpreender a ninguém que houvesse um forte clima de revanchismo nas delegacias. Então sejamos generosos com os muitos que realmente foram obrigados a defender a própria vida ou que pensavam estar fazendo justamente isso.

Mas nada nesse planeja justifica execuções -- ainda mais as sumárias. Não custa lembrar o óbvio: a PM existe para cumprir a Constituição Brasileira e, naqueles dias, ela foi simplesmente rasgada por um bando armado que, por conta própria, estabeleceu a pena de morte e uma espécie de rito sumaríssimo e muito impreciso de julgamento. Quem faz isso não é policial, é assassino cruel e deveria ir para junto dos seus: atrás das grades.

Fonte.

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